terça-feira, 8 de junho de 2010

A problemática da certificação de edifícios

A era da conscientização ambiental

Hoje podemos experienciar as consequências dos impactos gerados ao longo - principalmente - do século XX, após a Revolução Industrial e o salto tecnológico e populacional da humanidade. Os impactos que geramos foram proporcionais à esta evolução abrupta. Conseguimos viver mais, em maior número, numa sociedade consumista, com produtos cada vez mais descartáveis e, consequentemente, utilizando cada vez mais os recursos do Planeta. Antes de tsunamis, tempestades, furacões, surtos de frio e calor e inúmeros desastres naturais, o homem ainda não acreditava que seus atos gerassem consequências - não somente locais, mas com alcance mundial.

Na contramão dos eco-chatos, alguns cientistas argumentam que este é um período de transição geológica natural do planeta, que a Terra passa por este período de transformações no clima de alguns milhões de anos a alguns milhões de anos. Mas a população da Terra não pára de crescer (crescemos mais de 200% no último século) e, mesmo que esse seja um fenômeno isolado (sem relações com os impactos gerados pelo homem), é fato que hoje muitas vidas podem ser atingidas ao contrário que há milhões de anos atrás. Então algo deve ser feito para, pelo menos podermos viver melhor e em harmonia com o Planeta enquanto estivermos por aqui.

O papel da construção civil e da arquitetura
O edifício como produto

Neste cenário, sabe-se que a construção civil tem um importante papel. É um setor que evolui junto com uma sociedade, sendo muitas vezes usada como indicador do seu grau de desenvolvimento. A construção civil gera empregos, renda, impulsiona (e pode quebrar) a economia. Porém, em contrapartida, estima-se que cerca de 70% dos recursos naturais usados pelo homem são voltados direta ou indiretamente para a construção civil, contribuindo para o aumento do consumo de energia, da geração de resíduos, da geração de CO2, entre tantos outros.

O poder de transformar este setor, bem como de todo este cenário de impactos ambientais, está na mão do cidadão comum, artavés das suas escolhas subjetivas, que podem transformar um todo. É através de suas exigências por um mundo mais "ecológico", que muitos fabricantes começaram a utilizar o marketing verde como objeto de vantagem mercadológica, agregando valor aos seus produtos. Isso é bom, na medida em que, quanto mais esta prática se fizer corriqueira, mais os preços de produtos "eco" vão diminuir, aumentando a concorrência e melhorando sua qualidade ambiental, fechando um ciclo positivo para todos.

O mesmo processo deve ocorrer com edifícios. Se tratarmos o edifício como um produto, podemos dizer que é o produto que mais gera impactos ambientais de que se tem notícia. E, da mesma forma, o consumidor tem o poder de mudar esse cenário. Além da dificuldade de saber se o produto ou edifício é ou não "verde", no caso dos eficícios, ainda há a diferença de valor de um edifício x valor de um produto, o que dificulta ainda mais esta escolha.


Certificação de edifícios
Como saber seguramente se um edifício é "verde"?

No mundo todo, existem diversos selos verdes para edifícios. Diversos países no mundo, principalmente na Europa, têm seu selo verde para edifícios. Desta forma, sabe-se que o caráter regional de um selo verde para edifícios é de extrema importância - não podemos utilizar parâmetros do Hemisfério Norte (que comporta a maior parte dos países desenvolvidos e que tem, p.ex., uma demanda energética diferente da nossa) para o Hemisfério Sul ou para o Brasil, em particular. Neste sentido, o selo verde para um edifício é bem diferente de um selo verde para um produto. O produto pode ser globalizado e atingir uma boa qualidade ambiental em qualquer lugar do mundo (desde que, na sua análise de ciclo de vida não inclua grandes distâncias entre suas fases) - já o edifício, não.

No Brasil, somente em 2008, surgiu um selo verde para edifícios que se propõe estar adaptado à realidade brasileira - o selo AQUA (Alta Qualidade Ambiental). Atualmente, no Brasil, utilizamos em grande maioria um selo verde de origem anglo-americana, o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que já possui vários edifícios certificados e outros tantos em processo de certificação e é o selo mais utilizado no Brasil e no mundo. O problema do LEED é que ele não está adaptado à realidade brasileira, concentrando-se em preocupações que seu próprio nome revela: eficiência energética - quando, a realidade brasileira (com uma capacidade de geração de energia limpa) não é concentrada somente na geração de energia, mas também (e talvez principalmente) no caráter social e econômico da sustentabilidade*. Desta forma, podemos estar gerando falsos edifícios verdes.

Por isso, da mesma forma que acontece com produtos, devemos ter atenção. Nem todo produto que se diz "verde", é efetivamente sustentável.  Muitos fabricantes e construtoras utilizam este diferencial para marketing e para agregar uma imagem ambientalmente positiva às suas marcas. É preciso informação. No caso de edifícios, é mais difícil ainda para o consumidor distinguir a diferença entre um prédio verde ou não. Principalmente porque, na sua decisão, outros fatores ainda tem um peso drasticamente diferente na sua escolha final.

Neste momento de melhoria da economia brasileira, principalmente com o crescimento do poder de compra da casa própria e tantos incentivos do governo com programas de aceleração de crescimento, se faz urgente uma maior conscientização nesse sentido, disponibilizando mais informação e transparência nos processos e metodologias utilizadas para certificação. Desta forma, poderemos exercer nosso poder de escolha de forma consciente, transformando o cenário ambiental atual na causa do problema e não nas consequências.

Por Aline Perdigão.


* Tripé da sustentabilidade: Econômico, Ambiental e Social.

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